Davi estava em fuga. Absalão, seu filho, havia gerado uma situação política que acabara se tornando um golpe contra o próprio pai.
Eram antigas amarguras!
Agora, já adentrando a meia idade, forte e belo, Absalão julgara que era hora de depor o pai. Seu ódio se acumulara durante anos e se respaldava na falta de amor ativo da parte de Davi.
Não há dúvida de que Davi amava os filhos. E menos dúvida ainda de que tinha um xodó especial por Absalão. Mas foi esse xodó que acabou a relação entre os dois. Muito xodó, na hora em que o filho se torna um criminoso, pode fazer o pai se tornar um ser distante e silencioso, apenas para não ter que confrontar.
As mágoas cresceram!
Quando Davi percebeu, os exércitos do filho já marchavam sobre a capital. Não haveria livramento num enfrentamento. Jerusalém seria cercada e Davi seria morto. A sabedoria mandava fugir. E foi o que ele fez!
Descia andando, descalço, cabisbaixo, e chorando…
Passava pelo ribeiro do Cedron na direção do deserto. Era hora do deserto. Era hora de desertar!
As covas e vaus do deserto ele conhecia como ninguém. Vivera nelas muitos anos, sempre fugindo. Mas Davi jamais imaginou que tivesse que buscar refúgio numa gruta para sobreviver ao ódio de um filho!
Então ele ora:
Senhor, como tem crescido o número dos meus adversários!
São numerosos os que se levantam contra mim.
São muitos os que dizem de mim:
Não há em Deus salvação para ele!
Porém tu, Senhor, és o meu escudo, és a minha glória, e o que exaltas a minha cabeça.
Com a minha voz clamo ao Senhor… e ele me responde.
Deito-me e pego no sono; acordo, porque o Senhor me sustenta.
Não tenho medo dos milhares do meu povo que tomam posição contra mim de todos os lados.
Levanta-te, Senhor!
Salva-me, meu Deus, pois feres os queixos a todos os meus inimigos, e aos ímpios quebras os dentes. (Salmo 3).
Davi falara fundado na sua compreensão da alma humana e respaldado nos fatos históricos. Uma avaliação realista era suficiente para saber que havia muitos e numerosos contra ele, que o ânimo desses muitos era pensar que os dias de Davi haviam acabado, que agora era hora de ocupar o espaço e de se instituir uma nova liderança: a deles!
O adultério de Davi com Bateseba havia, de um certo modo, rasgado parte de sua mística carismática em relação a muitos do povo. Depois houve uma sucessão de tragédias familiares em sua casa. O resultado é que havia ressentimentos não tratados dentro da corte e fora nas ruas. Absalão virou agente catalisador de todos esse azedume coletivo!
O argumento piedoso dos que se levantavam contra Davi era o de que não havia “em Deus salvação para ele”. E ao dizer isto, perderam a guerra antes de começa-la.
Ninguém tem o poder de, em nome de Deus, virar a página da vida de um homem de Deus, dizendo: “Esse tempo acabou”.
O que ninguém sabia era que a vida íntima de Davi com Deus estava intacta. Mesmo enquanto andava, descalço e chorando—vestido de pano de saco e levando cinza na cabeça!
As aparências de sofrimento de um homem de Deus nada revelam além do fato de que ele é também de Deus, um homem!
“Porém tu, Senhor, és o meu escudo, és minha gloria, e o que exaltas a minha cabeça”.
E o pior é que seus inimigos não sabiam que Davi não os temia, apenas fugia. Quando algum foge sem medo está sendo apenas estratégico em sua autopreservação. Mas temer, Davi não temia a nenhum deles!
E qual a razão dessa confiança?
Seria auto-confiança?
Davi não os temia porque confiava em Deus!
O medo dos homens acaba sua tirania sobre nós quando a confiança no Senhor se instala em nós. Nesse dia você até dormir e pegar no sono!
Entretanto, havia mais!
Davi sabia que naquele “vale tudo” quem iria subir no ring não era ele, mas a multidão de seus inimigos. E sabia que quando estivessem ali, Deus levaria todos à lona: no queixo, nos dentes!
Eliminados os agitadores do ódio, Davi sabe desde de antes como terminará a sua oração: em casa, em seu próprio lugar, vendo a graça e sendo benção para o povo!
Do Senhor é a salvação, e sobre o teu povo a tua benção!
Quem crê pode se sentir do mesmo modo!
Quem crê verá o mesmo resultado!
Se creres verás a Glória de Deus!
Amém!
Rev. Caio Fábio
terça-feira, 23 de março de 2010
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